“Cavaleiro Fiel”, a estátua gigante de Itaquera
Não
ouse se referir à estátua de 30 metros de altura que o escultor Gilmar Pinna
colocará em frente ao futuro estádio do Corinthians, em Itaquera, como uma
representação de São Jorge. “Pelo amor de Deus, não tem nada de São Jorge! O
nome é Cavaleiro Fiel!”, ele reprime imediatamente, levando as mãos à cabeça.
Esse batismo ocorreu poucas horas antes de o artista apresentar em primeira mão
para a Gazeta
Esportiva o
projeto do monumento de aço inoxidável que, segundo ele, será o novo
cartão-postal de São Paulo.
Inicialmente, a obra de
Gilmar Pinna havia sido divulgada por Luis Paulo Rosenberg, vice-presidente do
Corinthians e ex-diretor de marketing, como uma estátua gigante de São Jorge (do
tamanho do Cristo Redentor, se descontado o pedestal da escultura carioca) que
motivaria peregrinações religiosas a Itaquera. Não era para menos: todos os
elementos da caracterização habitual do padroeiro corintiano – um cavaleiro, sua
lança e o dragão – estão no projeto, que prevê ainda 15 grandes bustos de
torcedores saídos de um espelho d’água de 80 metros de largura, com os braços
esticados, em gesto de devoção ao “Cavaleiro Fiel”.
Feito
de aço inoxidável, o “Cavaleiro Fiel” do escultor Gilmar Pinna terá
aproximadamente 30 metros de altura e pesará 200 toneladas, com custo estimado
de R$ 6 milhões
“Isso
mesmo: os torcedores ficarão atrás do Cavaleiro Fiel, e não de São Jorge. Você
já aprendeu: Cavaleiro Fiel! Não vá se confundir com Cavaleiro da Fiel, hein?”,
roga Gilmar Pinna, com as palmas das mãos unidas, preocupado com uma possível
reprovação da obra por parte de evangélicos (contrários ao culto de imagens) e
até de seguidores de religiões afro-brasileiras (que sincretizam São Jorge na
forma de Ogum). “Tenho experiência nessa área. Sei que é complicado mexer com
religião.” A ideia de mudar o nome da estátua foi uma orientação do filho mais
velho do escultor, Gilmar Pinna Júnior, que é publicitário e tem ajudado o pai a
viabilizar a construção do monumento.
Foi
Gilmarzinho quem promoveu uma reunião – e um rápido acordo – entre seu pai e
Luis Paulo Rosenberg, há cerca de seis meses. Gilmar Pinna já estava propenso a
utilizar a Copa do Mundo de 2014 para se inspirar naquela ocasião. Havia sido
contratado por Sebastião Almeida, prefeito de Guarulhos (onde reside
atualmente), para criar 12 obras de 25 metros de altura cada e embelezar o
município vizinho de São Paulo para o evento. “Quando soube que o estádio do
Corinthians abriria a Copa, não pensei duas vezes em conciliar esses dois
projetos. Recorri ao meu filho para entrar em contato com o Rosenberg, que foi
bastante receptivo”, comenta.
Gilmar
Pinna gosta de trabalhar em esculturas grandiosas, como as que planejou para a
Copa
Rosenberg,
no entanto, fez algumas ponderações sobre o esboço apresentado por Gilmar. O
escultor tinha planejado expor diante do estádio do Corinthians grandes estátuas
de jogadores de futebol de destaque internacional do passado e do presente, como
Pelé, Maradona, Neymar, Messi e outros. O dirigente preferiu que a torcida fosse
contemplada ao lado de São Jorge – ou melhor, do Cavaleiro Fiel. A sugestão
agradou. “O Rosenberg e o Corinthians gostam de trabalhar em função do ser
humano, e isso me cativou. Também sou assim”, diz o artista
plástico.
Mãos dadas em nome
do amor
Gilmar
é “assim” a ponto de se empolgar e erguer a voz quando define o que pretende
incitar nas pessoas com o seu Cavaleiro Fiel gigante de Itaquera. “O amor! Cara,
o homem [Jesus Cristo] desceu aqui, foi crucificado e falou ‘amém’. Muitos anos
depois disso, as pessoas continuam brigando por qualquer coisa, matando por
futebol e religião. C...! P...! Outro dia, Chico Buarque estava falando do
período em que ia assistir a Corinthians contra Santos no Pacaembu. Ele era
jovem, garotão, e via as torcidas todas misturadas nas arquibancadas. Era uma
harmonia sadia, do c...! Por que não pode mais ser assim? Não entendo!”, ele
grita, enquanto mexe freneticamente na sua inconfundível trança de
cabelo.
O
desejo de propagar a fraternidade é tamanho que Gilmar cogita fazer algumas
alterações no seu projeto para o futuro estádio do Corinthians. “Os torcedores
que reverenciam o Cavaleiro Fiel no monumento poderão, quem sabe, ficar de mãos
dadas, conclamando a paz. Eles são torcedores de todos os times, já que o
estádio será também da Copa do Mundo, da Seleção Brasileira, do povo. Não dá
para visualizar no vídeo que fizemos da obra, mas eles terão suas feições
detalhadas, externando sorrisos e tristezas. Alguns estarão torcendo pelo
cavaleiro e outros pelo dragão. Talvez eu também coloque uma bandeira
pacificadora com o guerreiro, uma flor em sua lança... Vamos ver”, avalia o
escultor, entusiasmado.
Um
receio semelhante ao que transformou São Jorge em um Cavaleiro Fiel, contudo,
poderá fazer os torcedores idealizados para a escultura continuarem de braços
estendidos. “Existe um preconceito contra as mãos dadas, não é?”, constata
Gilmar, referindo-se a sentimentos homofóbicos com um piscar de olho. “Mas mão
dada é do c...! Até os jogadores unem as mãos quando rezam antes das partidas.
Os torcedores se abraçam para cantar suas músicas. Precisamos trilhar esse
caminho da união”, contesta em seguida. Para colaborar com a sua visão de mundo,
o artista distribuiu abraços a quem estava por perto em meio a esse inflamado
discurso fraternal.
Ateliê
do artista em Guarulhos é claro, organizado e fica bem ao lado de uma sub-sede
da Gaviões da Fiel
Ao longo de mais de quatro décadas de
carreira, Gilmar Pinna já se acostumou a enfrentar preconceitos e a celebrar a
paz em seus trabalhos. O sétimo dos oito filhos do jornalista Gil com a índia
caiapó Maria é natural de Ilhabela, de onde se tornou embaixador cultural graças
à perseverança. “Você não percebe que tenho uma expressão indígena?”, pergunta.
Na infância, além de ter encantado diversos turistas com suas esculturas nas
areias das praias do litoral norte paulista, fez questão de chocar outros tantos
com seus cabelos compridos, calças floridas e chinelos de dedo. Ouviu muitos
gritos de “veado”, embora fosse mulherengo. “Imagine o que as pessoas pensavam
de mim há 40 anos. Mas não quero nem saber. Ainda hoje gosto de provocar esses
babacas. Às vezes, saio do meu ateliê com a mesma roupa simples do dia a dia e
coloco duas tranças ao contrário só para incomodar esses filhos da p...! Eles
ficam me olhando como idiotas, em vez de prestarem atenção nas coisas da vida
que valem a pena. Você tem que se vestir e ser do jeito que quiser!”,
desabafa.
Um
corintiano no exterior
Gilmar
Pinna não se contentou em afrontar – e presentear com suas obras – apenas a
sociedade ilhabelense e brasileira. Com 15 anos, após se inspirar no renomado
artista espanhol Fernando Odriozola em Ilhabela e aprender a trabalhar com
metais (o material já lhe fascinava, por causas das soldas do vizinho austríaco
Lamberto) com o argentino Domingo Soto, ele calçou seus chinelos de dedo e
colocou as calças floridas na mala para conhecer o mundo. “Fui morar na Itália,
enfrentei dificuldades, passei por Portugal, o lugar de que mais gostei,
Espanha, Estados Unidos... E agora estou em Guarulhos, onde fui muito bem
acolhido pelo prefeito e pela população. O artista precisa vagar junto com a sua
arte. Sempre senti falta de um monte de coisas lá fora. Mas meus filhos já estão
crescidos. Quer ver como já não ligam para mim?”, diz, tentando se comunicar com
Gilmarzinho por intermédio de um rádio. Seus bipes não foram respondidos durante
todo o dia.
No exterior, Gilmar Pinna tinha um motivo além dos parentes
e amigos para ficar com saudades do Brasil. “Sempre frequentei estádios de
futebol. Pertenço a essa m...! Joguei bola a vida inteira. O Gilmarzinho também
era bom para c...! Ele jogava com Diego e Robinho. Era melhor do que os caras!
Só que acabou se cansando do ambiente. Então, como corintiano fanático, eu
achava duro ficar longe dos jogos do meu time de coração”, afirma. Mesmo do
outro lado do mundo, a paixão não foi esquecida. O escultor aproveitou uma
estadia em Tóquio, certa vez, para assistir a uma partida entre duas equipes
japonesas. “Por qual está torcendo?”, perguntaram-lhe. “Pelo Corinthians! Não
importa onde eu esteja ou a situação. Ontem, agora e amanhã: sou Corinthians.
Sempre.”
Para
provar que o amor pelo Corinthians não se trata de uma demagogia de quem criará
uma estátua gigante para um dos principais estádios do Mundial de 2014, Gilmar
se levanta e vai até a estante para buscar uma fotografia em um porta-retratos.
Na imagem, ele aparece no alambrado do Pacaembu ao lado de dois conselheiros do
clube. Vestindo um antigo terceiro uniforme corintiano, que tem São Jorge
estampado no peito e já foi alvo de polêmica entre os evangélicos. “Você não me
falou que fizeram uma camisa com São Jorge? Olhe aqui: eu tenho”, sorri, sempre
comedido com o tema. “Ninguém sabe se São Jorge existiu. É uma lenda. Agora...”,
comenta, pausando para coçar o queixo. “... É uma lenda forte, viu? São Jorge é
lembrado no futebol, no samba... Não é brinquedo, não.”
Para
Jesus Cristo, de graça
Embora
não seja devoto do santo nem siga qualquer religião, o artista estudou todas
elas e facilmente se mostra um homem de bastante fé. Ele agradece a Deus pelo
pão ingerido durante a tarde e abre a uma Bíblia de bolso – com o seu nome
escrito na contracapa – para recitar, com os óculos na ponta do nariz, algumas
das passagens que considera mais marcantes. Chega a mencionar o caso de um amigo
curado de um câncer no cérebro “através da força de Jesus Cristo”. “O cara
[Jesus] existe. Estou falando isso independentemente de credo, hein? Não é
religião. O cara é muito forte. O cara e-xis-te.”
Não
por acaso, a primeira escultura feita por Gilmar Pinna (então com 12 anos) foi
um Jesus Cristo crucificado, nas areias de Ilhabela. Ele ganhou um prêmio por
aquela obra de arte. “E vou confessar que, desde então, nunca cobrei para fazer
projetos relacionados ao filho de Deus. Sinto uma conexão direta com o homem
quando trabalho. Só recebo dinheiro por outros tipos de monumento”, afirma o
artista, que está esculpindo atualmente uma enorme cabeça de Jesus, em evidência
no centro do seu ateliê em Guarulhos – localizado bem ao lado de uma sub-sede da
torcida organizada Gaviões da Fiel. Com uma escada, ele encoraja seus convidados
a subirem em cima da face da obra para tatearem detalhes da coroa de espinhos,
dos olhos, nariz e boca.
Uma imagem de Jesus também está presente em um dos trabalhos mais famosos de Gilmar. A exposição Retratos da Vida, que ficou aberta à visitação no Memorial da América Latina de São Paulo, em 2006, foi comprada pelo então prefeito Alberto Mourão para a construção da Praça da Paz, símbolo da cidade de Praia Grande a partir daquele ano. Além da figura de Cristo, cabeças de aproximadamente 10 metros de altura e 30 toneladas de Santa Maria, do Papa João Paulo II, de Madre Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e até do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003 em um atentado terrorista no Iraque, compõem a obra. “O Mourão viu o monumento no vernissage e disse que queria levar para Praia Grande. Fiz um grande negócio com um cara diferenciado na política brasileira, que se importa com cultura. Bem diferente do Cláudio Lembo, governador de São Paulo na época. Mandato tampão, não é? Ele me cumprimentou no Memorial e passou batido por tudo, pois tem uma cultura podre. É podre, e você pode escrever isso aí. Acredita que ele teve coragem de me oferecer R$ 1 por uma obra?”, esbraveja o escultor.
Uma imagem de Jesus também está presente em um dos trabalhos mais famosos de Gilmar. A exposição Retratos da Vida, que ficou aberta à visitação no Memorial da América Latina de São Paulo, em 2006, foi comprada pelo então prefeito Alberto Mourão para a construção da Praça da Paz, símbolo da cidade de Praia Grande a partir daquele ano. Além da figura de Cristo, cabeças de aproximadamente 10 metros de altura e 30 toneladas de Santa Maria, do Papa João Paulo II, de Madre Teresa de Calcutá, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela e até do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003 em um atentado terrorista no Iraque, compõem a obra. “O Mourão viu o monumento no vernissage e disse que queria levar para Praia Grande. Fiz um grande negócio com um cara diferenciado na política brasileira, que se importa com cultura. Bem diferente do Cláudio Lembo, governador de São Paulo na época. Mandato tampão, não é? Ele me cumprimentou no Memorial e passou batido por tudo, pois tem uma cultura podre. É podre, e você pode escrever isso aí. Acredita que ele teve coragem de me oferecer R$ 1 por uma obra?”, esbraveja o escultor.
Convencer
autoridades da importância de erguer monumentos em lugares públicos é uma missão
tão difícil quanto esculpir, de acordo com Gilmar Pinna. “Parece que as pessoas,
infelizmente, não ligam para obras de arte no Brasil. Ou não sabem que você
gasta fortunas com material para trabalhar. O aço inox tem um preço próximo ao
do ouro e vale mais do que a prata. Isso sem falar do tamanho das esculturas que
faço. Quando você revela o valor, o cara vira para trás e desiste de comprar. O
povo até gosta, mas, ao saber que um prefeito ou alguém pagou por aquilo, fica
f...! Estou roendo o osso, fazendo a minha parte em benefício das futuras
gerações de escultores”, analisa, triste com a falta de reconhecimento. “Isso
acontece em todo o mundo. Pensam que não existe a profissão artista de
monumento. E estamos falando de um trabalho árduo, que desgasta e é complicado
de vender. Sou tão profissional quanto um médico, um engenheiro, um jornalista,
um pedreiro ou um encanador.
Cavaleiro Fiel será uma das obras mais caras de Gilmar Pinna. O custo estimado para utilizar – e transportar com guindastes – 200 toneladas de aço inoxidável e outras 30 de eletrodos é de R$ 6 milhões. “Preciso ganhar alguma coisa também, claro, mas não estou priorizando o dinheiro”, ele avisa. Segundo o artista, o preço seria muito maior fora do Brasil. “Quando morava em Chicago, participei da criação de uma escultura de bronze do Michael Jordan, para o ginásio do Chicago Bulls, que custou US$ 11 milhões. Tinha 3 metros de altura. Preste atenção: 3 metros. A do Corinthians tem 30 metros. Quanto será que os estrangeiros cobrariam por ela? Dez vezes mais, não? Mas não chego a tanto porque tenho consciência de que vivo em outra realidade e por querer fazer algo grandioso pelo meu País”, justifica. Também nos Estados Unidos, ele recebeu cerca de R$ 300 mil – uma “mixaria”, disseram seus colegas – para fazer uma estátua para uma escola norte-americana.
Cavaleiro Fiel será uma das obras mais caras de Gilmar Pinna. O custo estimado para utilizar – e transportar com guindastes – 200 toneladas de aço inoxidável e outras 30 de eletrodos é de R$ 6 milhões. “Preciso ganhar alguma coisa também, claro, mas não estou priorizando o dinheiro”, ele avisa. Segundo o artista, o preço seria muito maior fora do Brasil. “Quando morava em Chicago, participei da criação de uma escultura de bronze do Michael Jordan, para o ginásio do Chicago Bulls, que custou US$ 11 milhões. Tinha 3 metros de altura. Preste atenção: 3 metros. A do Corinthians tem 30 metros. Quanto será que os estrangeiros cobrariam por ela? Dez vezes mais, não? Mas não chego a tanto porque tenho consciência de que vivo em outra realidade e por querer fazer algo grandioso pelo meu País”, justifica. Também nos Estados Unidos, ele recebeu cerca de R$ 300 mil – uma “mixaria”, disseram seus colegas – para fazer uma estátua para uma escola norte-americana.
Sem
o Corinthians, em busca de patrocínio
Por
conta própria, Gilmar começou a procurar patrocinadores para o seu Cavaleiro
Fiel. Já se reuniu – sozinho – com representantes de uma instituição bancária e
de uma companhia de telefonia celular. O Corinthians, como tem feito em outros
projetos abraçados pelo departamento de marketing, incumbiu o parceiro de
viabilizar toda a engenharia burocrática necessária. “O problema é que o Gilmar
mostrar a obra é diferente de o Corinthians mostrar. Tenho credibilidade pelo
meu trabalho, mas não sou o Corinthians. O Gilmar não é envolvido em nada do
esporte. Fica mais difícil”, lamenta. O escultor cogita até seguir o exemplo do
clube, que venderá osnaming
rights da arena da Copa do Mundo, e colocar o nome de uma empresa também em
seu cavaleiro para lucrar. “Clamo pelo apoio de quem tem interesse na Copa do
Mundo, no Corinthians e em alavancar a cultura no Brasil. Algumas pessoas estão
achando que é estátua de São Jorge, mas se trata do Cavaleiro Fiel. Farei uma
homenagem para todas as torcidas na escultura, abordando paz, harmonia, amor e
camaradagem”, divulga.
Com
ou sem patrocínio, Gilmar Pinna garante que o Cavaleiro Fiel sairá do papel. “É
claro que sim. Vou fazer isso por mim. Nem que precise tirar alguma coisa do meu
próprio bolso. Sei que, se a obra vingar, deixará de ser minha e virará dos
caras. Quero que se f...! Não precisa nem ter o meu nome lá. A minha vontade é
fazer o bagulho. Se vão ler ou não o meu nome em uma placa, tanto faz. Só quero
passar a mensagem da minha arte. Se disserem que foi o Corinthians que fez e não
eu, estará tudo bem também. O que vale é o desafio: a molecada e eu esculpindo,
tirando uma onda, curtindo... Faturo o meu, e acabou!”, brada.
De fato, são os desafios que movem a vida de Gilmar Pinna.
Em fevereiro deste ano, por exemplo, ele embarcou na jangada “Bolinha” ao lado
do filho caçula Baepi Pinna (campeão sul-americano e vice-campeão mundial de
vela na classe Laser 4.7, hoje morando na Austrália para estudar cinema) e dos
pescadores João de Castro e Alex Damico em uma viagem de Santos ao Rio de
Janeiro. A aventura marítima durou quase uma semana e foi realizada “em defesa
da cultura brasileira”. “As jangadas, patrimônio cultural do Ceará, estão sendo
vendidas aos montes para os europeus. Restam muito poucas delas. Meu filho, meus
companheiros cearenses e eu quase morremos para chamar a atenção para isso”,
fala o artista.
Os
parceiros de Gilmar Pinna em outra empreitada, a construção do Cavaleiro Fiel,
também são nordestinos. O escultor esteve em Estrela de Alagoas e decidiu dar
oportunidade de emprego a um grupo de jovens (corintianos) da cidade de menos de
18.000 habitantes do agreste alagoano. Eles vieram para Guarulhos, aprenderam a
esculpir e recebem alimentação, moradia e salários em troca do trabalho diário.
Quando é entrevistado, o artista chefe faz questão de tirar fotos ao lado de
seus pupilos. “Eles ficam felizes. São os meus braços aqui. É importante dar
valor”, enaltece, sem dispensar brincadeiras com os aprendizes. Dilma, que
prepara o café e mantém a oficina em ordem, atende pelo apelido de “Presidente”
em homenagem à xará famosa. Para que ela sirva o lanche vespertino, um dos
garotos é mandado à padaria com a tarefa de comprar salame italiano e mortadela.
Volta com 1 kg de presunto. “E eu lá sei o que é salame e mortadela? O cara da
padaria disse que também não sabe. Não tem essas coisas na minha terra”,
explica, enquanto é repreendido pelo patrão.
Uma
atriz global enfezada
É
bom que Gilmar seja ponderado ao dar broncas nos comandados. Ao menos quando
estiver na presença de sua filha do meio, Maria Pinna, que encarnou a patricinha
Babi na novela “Malhação”, da TV Globo. A atriz não aceita nenhuma reprimenda
aos empregados do ateliê de Guarulhos. “Alguém tem fósforo?”, ela perguntou,
quando visitou o local recentemente e queria acender um cigarro. “Seu pai não
gosta que a gente fume aqui”, escutou como resposta. E revoltou-se: “Como é? Não
aceitem que ele dê regras para vocês! Procurem seus direitos! Quer saber? Eu
mando aqui. Vamos fumar todos nós”. Por ordem dela, os presentes se reuniram
para fumar, e o patrão ficou escondido para não presenciar a cena e encarar os
protestos da filha.
Pior ainda ocorreu em Ilhabela.
“Leandro, seu filho da p..., sobe aqui para almoçar!”, gritou o pai para seu
encarregado. Maria não gostou nada do que ouviu. “Mãe, não precisa fazer o meu
prato. Não estou mais com fome”, avisou. Depois, levou Leandro para uma loja de
roupas em que Gilmar possuía conta e efetuou compras no valor de R$ 35 mil em
presentes para o funcionário. “Ela fez isso só para eu aprender a lição. É mole?
Foi pegando dos cabides e jogando nas mãos dele, que não tinha como recusar.
Devolvi uma parte, apesar de a Maria já ter mandado não aceitarem. Deixei R$ 2
mil só para não dizerem que a menina perdeu o tempo dos vendedores”, recorda o
pai. Alguém comenta: “Nossa, a Maria é bem...”. O escultor não se intimida para
completar a frase, rindo: “... Bem louca!”.
Mas
Gilmar está longe de ser visto como um chefe austero pelos jovens de Estrela de
Alagoas. “Ele é muito bom para a gente”, reconhece um deles, tímido. O grupo
realmente precisa estar unido para fazer jus ao significado do Cavaleiro Fiel e
terminar a obra antes da Copa do Mundo. “Ainda não começamos a trabalhar nela.
Se não recebermos o material em 30 dias, já ficará apertado. O tempo é muito
curto. Para você ter uma ideia, cada estátua de torcedor tem 30 metros. Teremos
que fazer tudo por partes, levando o que já estiver pronto para a região do
estádio. Ainda haverá o espelho d’água, chafarizes e holofotes. Será lindo e
grande para c...! Dará para avistar a imagem do cavaleiro a muitos quilômetros
de distância”, exalta o artista.
Para
encerrar a carreira
A
intenção é que os turistas em tráfego no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos,
consigam admirar o Cavaleiro Fiel em pleno voo. “Já imaginou que coisa linda?
São Paulo hoje tem esculturas de 100, até 400 anos atrás. Você não vê ninguém
fazendo monumentos novos, com interatividade com o público, como será este.
Sinceramente, são poucas as pessoas no mundo que conseguem erguer o que estou
propondo para o Corinthians”, comenta, orgulhoso.
Gilmar
fez questão de tirar esta foto ao lado dos seus ajudantes, que trouxe de Estrela
de Alagoas
Gilmar
já consegue até visualizar, com os olhos marejados, as reações das pessoas à
obra de Itaquera. “O legal é que o sentimento despertado em cada um muda”,
ressalta. Ele lembra que uma representação sua de Jesus Cristo, maior
cartão-postal de Ilhabela, já rendeu histórias curiosas. “Dois rapazinhos meio
hippies, acho que estavam doidinhos também, ficaram assustados quando notaram a
escultura. ‘Nossa, mano! Olhe a barba do maluco!’, eles gritaram. Eu gargalhava
vendo o jeito de eles falarem de Cristo”, conta. Em outra ocasião, o escultor se
apresentou para turistas que fotografavam aquele monumento como o autor da obra.
Ninguém acreditou nele. “Sai fora, meu!”, reclamaram. “Eles imaginam que o
artista é um cara barbudo, de cabelo branco, manja? Tipo o Gepeto, do Pinóquio”,
compara
Além do Cavaleiro Fiel, Gilmar Pinna está preparando, em
parceria com o prefeito Antonio Colucci, um monumento em forma de velas e do
mapa de Ilhabela para deixar na entrada do seu município natal. “São grandes
obras para encerrar a minha carreira, principalmente a do Corinthians. Acredito
muito neste trabalho. Estou com a minha trajetória consolidada, viajei o mundo
todo esculpindo, mas ainda quero fazer algo marcante no meu País, para ficar na
história. Por isso, estou clamando por patrocínio, material ou qualquer outro
tipo de apoio”, repete.
Minutos
depois de encerrar esta entrevista, Gilmar telefona para um possível fornecedor
de aço inoxidável e mostra-se confiante: “Sabe aquele vídeo que te mandei? Cedi
com exclusividade para a Gazeta
Esportiva, que vai divulgar como Cavaleiro Fiel. Vamos matar a pau assim. Só
não fale São Jorge, por favor. Tudo dará certo. Um abraço. Tchau, tchau”. Gilmar
desliga e diz “Deus há de querer” para si mesmo. E – por que não? – São Jorge e
os corintianos também
oO QUE DIZ A BÍBLIA SOBRE O DESPERDICIO DE DINHEIRO...
"Por que gastais o dinheiro naquilo que
não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei
o que é bom e vos deleitareis com finos manjares." Isaías
55:2
Pensamento: Não perca tempo com o mundo, não
gaste tempo com o mundo, você é peregrino nessa terra. Temos necessidades sim,
que devem ser supridas, para isso não deixamos de trabalhar e proporcionar
sustento e até mesmo conforto, para nós e nossa familia. Mas façamos tudo para
glória de Deus, façamos tudo com excelência, pois estamos fazendo para o Senhor.
Coma do que Deus tem para sua vida, edifique-se na palavra de Deus, e certamente
você se deleitará com os mais finos manjares de Deus.
Oração: Pai querido, retira de mim todo
apego exagerado as coisas deste mundo, ensina-me a acumular tesouros no céu, e a
confiar que o Senhor é a fonte do meu sustento e nada me faltará. Obrigado
porque o Senhor me convida a experimentar dos Seus finos manjares. Eu oro em
nome de Jesus para que nos irmãos que participam desta vergonha se arrependam e abandonem essa idolatria. Amém.
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